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O ASTRONAUTA DE BOWIE & O PRIMITIVISMO DA RÚSSIA PAGÃ DE STRAVINSKY.
‘LE SACRE Variations’ foi composta em Julho de 2012 e gravada em um take. Usando o tema de abertura da Sagração da Primavera do Stravinsky como base, tentei criar uma imagem sonora de uma paisagem anciã - misto da evocação do espírito primitivo e pagão das paisagens selvagens (ex. o solo de fagote sendo repetido constantemente na peça), do azul charco na terra molhada e fria de onde lentamente brotam os insetos, antes ali em abrigo à chuva (aos 0:27 os insetos vencem a resistência do solo e retornam a superfície), do pontilhismo das flores vistas do céu (ex. as batidas onipresentes, agudas, martelantes, não-ignoráveis), do céu pálido amarelado sobre o solo de onde ecoam os sons tribais enclausurados nos fósseis de ancestrais do Homem (4:12, 4:34, sutis, ressoando sob a crosta, recorrentes), dos cantos esparsos de aves raras, (o ruído branco que surge após 5:38, já presente anteriormente, mas evidenciado aqui) e um exemplo de solidão humana máxima - um astronauta no espaço, dentro de sua cápsula, sua lata existencial, o todo dele que é o limite habitável (aos 7:18 onde a música tende ao silêncio, ao repouso, e no último momento, levemente agoniza e acaba).
A metáfora do astrounauta e os temas que o rodeiam (universo, vácuo, tempo, dimensões & todos seus respectivos romanticismos) são um lembrete da insignificância da nossa era, planeta, galáxia, carne - somos indifirentes no universo, é só a falsa impressão de tê-lo conquistado, dominado. Perante os bilhões de bilhões de milênios do “Todo”, nossa existência, procriação, produção, dor e salvação são de um desvalor imensurável - e é justamente disso que nasce a beleza, mesmo em nossa insignificância para o espaço-tempo, ainda damos o justo valor, gosto, tesão, amor, dedicação a nossa existência - sobrevivemos à danação. Na nossa mente - de onde vêm música, ardor, cobaltos, assaltos, turquesas - não escolhemos conforme nossas miopias, e sim, conduzidos sob a significância que agregamos ao insignificante - pois, apesar de efêmero, é fundamentalmente vital e um absoluto tudo, é exatamente tudo que temos onde nada somos.
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